«Holanda» - Alter Ego

>> quarta-feira, novembro 14, 2007


Amsterdam


Ontem estava a escrever neste blog, quando ouvi a campainha tocar. Era já tarde para visitas...pensei. De facto, e como habitualmente, tinha-me esquecido das horas e a noite já ia longa.

Tocou novamente. Algo assustado pelo adiantado da hora, dirigi-me sorrateiramente até à porta, e encostei-lhe o ouvido, na vã esperança de que algum ruído vindo do outro lado, me ajudasse a identificar os meus visitantes. Sem sucesso… Apenas uma tosse rápida e um ligeiro suspiro impaciente.

A campainha tocou uma vez mais…teria mesmo que abrir, pois não queria que as crianças acordassem, tornando ainda mais incómoda esta situação.

Abri, colocando o ar mais confiante que consegui buscar. Contudo, esse meu ar rapidamente se transformou, primeiro em inquiridor, depois em surpreso e por fim, abrindo os olhos o mais possível, como se quisesse não ver o que realmente via, num ar de total espanto.

À minha frente estava um homem que não reconheci de imediato, mas que me era contudo imensamente familiar. Perguntei o que desejava, e enquanto esperava a resposta, a minha mente procurava avidamente aquele rosto nos mais recônditos locais da minha memória…nada…vazio.

Não me respondeu, limitando-se a olhar-me frontalmente, embora o seu olhar parecesse que me atravessava e olhava para além de mim. Com os olhos, tentei perguntar-lhe novamente o que queria de mim àquela hora…o homem continuava mudo…foi aí que o meu espanto foi gradualmente aumentando à medida que ia reconhecendo a cara que me enfrentava. Não consegui evitar um curto grito de assombro quando me reconheci naquela cara…

Era eu… Era eu…mas…mas...como?...quem?... Sim era mesmo eu.

Resisti ao cepticismo e esqueci-me da impossibilidade real de isso estar a acontecer, e observei o meu visitante. Ou melhor, observei-me.

Percebi que apesar da mesma idade, parecia muito mais velho, parecia próximo do 50. Uma ligeira calvície ameaçava-me os curtos cabelos grisalhos impecavelmente penteados, os olhos apagados, vagos e sem brilho sob umas olheiras escuras, mostravam uma alma cansada e desiludida. Os lábios cerrados e frios, não me pareciam ter tido capazes de alguma vez terem esboçado um sorriso.
Tinha algumas rugas de expressão, já pronunciadas, provocadas provavelmente pela tensão que os seus músculos faciais nunca libertaram. A forma como me vestia, aparentava um nível de vida elevado, talvez fruto do sucesso profissional alcançado.
Não me parecia um homem feliz e em paz.

Não sei quem era aquele eu…o meu alter ego?.. um outro eu?..um eu paralelo?…ou o eu, como os outros me vêem?

Não me atrevi a falar….
O meu visitante, o outro eu, finalmente falou… "provavelmente, queres saber quem sou e o que faço aqui?", perguntou….ainda sem palavras, acenei-lhe que sim com a cabeça….Continuou sem esperar pela minha resposta…"pois bem, a resposta à primeira pergunta não te darei e terás que a encontrar por ti próprio, quanto ao que faço aqui é muito simples…" parou, como que esperando pela minha reacção…"Vim simplesmente despedir-me!!!"

E antes que eu pudesse, balbuciar um simples “mas”, virou-me as costas e afastou-se rapidamente desaparecendo no escuro da noite. Acho que fiquei ali especado a segurar a porta e a olhar para o nada…até aos primeiros raios de sol!

Quando olhei para o relógio, pensei… "bem, tenho que ir tomar banho e ir pró trabalho que estou já atrasado!!!"

1 CLICKS:

Anónimo 16:59  

Visitas inesperadas… a maior parte das vezes uma agradável surpresa
Outras….
Eu diria que foi atencioso, este visitante, teve a amabilidade de se vir despedir, indiferente ao adiantado da hora.

SOBRE ESTE BLOG


JÁ FUI as minhas viagens escritas com luz natural em Itália, New York, Tunisia, Cuba, Paris, Turquia, Londres, Cabo Verde, Holanda... AGORA APENAS SOU.

ESTÃO NESTE MOMENTO A OLHAR AS LUZES

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