«Paris» - Pintura

Lapointe Boby - La peinture à l'huile



Imagino-me tela branca colocada num cavalete.

Espero impaciente embora calma aqueles dolorosos e desinspirados momentos, antes de ser transformada em pintura. Brevemente deixarei de ser tela branca num cavalete.

Não gostam de mim assim tão branca. O meu branco que parece imenso, desespera aquela pintora que me transformará para sempre numa obra-prima admirada por milhares, obra esquecida a um canto de um qualquer estúdio poeirento ou simplemente em lixo.

O meu destino é incerto. Esta é a minha primeira vez de tela branca num cavalete frente a um pintor, senão já não seria tela branca.

Uma mulher em frente a mim olha-me fixamente. Olho também para ela. Tento perceber se é artista conceituada ou mera aprendiz.

É aprendiz! Estou num quarto de dormir. Sei agora que serei obra de estimação, objecto de aprendizagem ou oferta de amigo. Ou talvez obra-prima!! Mas deixarei de ser tela branca comprada entre tantas outras, para ser filha daquela mulher pintora de telas brancas em cavaletes montadas.

Estamos sozinhas, e aquela mulher artista olha-me para além de mim, com um ar distante ainda sem rumo, indeciso e sonhador.

Serei o resultado de um sonho? Uma paisagem? Um retrato? Um nu? Figurativo ou abstracto? Paixão ou técnica? Aguarela colorida ou óleo dramático?

Ainda não sei.!! Por enquanto apenas sou tela branca em cima de cavalete.

Sinto uma mão pousar suavemente em mim. Em seguida um bico de carvão. Como numa ultima caricia, deixei de ser tela branca.....