«Tunisia» - as metamorfoses do espirito
>> domingo, fevereiro 12, 2006

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Três transformações do espírito vos menciono: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, respeitável. A força deste espírito está bradando por coisas pesadas, e das mais pesadas.
Há o que há que seja pesado? — pergunta o espírito sólido. E ajoelha-se como camelo e quer que o carreguem bem.
Que é a tarefa mais pesada, heróis — pergunta o espírito sólido — a fim de eu a deitar sobre mim, para que a minha forca se recreie?
Não será rebaixarmo-nos para o nosso orgulho padecer? Deixar brilhar a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez?
Ou será separarmo-nos da nossa causa quando ela celebra a sua vitória? Escalar altos montes para tentar o que nos tenta?
Ou será sustentarmo-nos com bolotas e erva do conhecimento e padecer fome na alma por causa da verdade?
Ou será estar enfermo e despedir a consoladores e travar amizade com surdos que nunca ouvem o que queremos?
Ou será submerjirmo-nos em água suja quando é a água da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os quentes sapos?
Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma quando nos quer assustar?
O espírito sólido sobrecarrega-se de todas estas coisas pesadíssimas; e à semelhança do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto.
No deserto mais solitário, porém, se efetua a segunda transformação: o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade e ser senhor no seu próprio deserto.
.......
Assim falava Zaratustra. E nesse tempo residia na cidade que se chama “Vaca Malhada”.
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de "Assim falava Zaratrusta", Nietzche
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